quinta-feira, 27 de junho de 2013

Não me mande mais rosas

As luzes no escritório iam se apagando com o tempo, mas para Richard Swift o trabalho sempre ia até mais tarde. Todos os outros repórteres se despediam e deixavam seus textos para a revisão final. As luminárias se apagavam enquanto ao fundo ainda se ouvia o estalar de uma única máquina de escrever. Uma luz sozinha em uma sala que costumava ser barulhenta durante o dia. Richard porém, preferia o silêncio no escritório. Ainda que estes atrasos constantes fossem motivos de várias brigas com sua mulher, ele nunca se queixou do seu emprego. Richard era redator-chefe  no The New York Times, e, por volta das oito da noite, finalizara a edição do dia seguinte. 
Saiu, fechando o escritório atrás de si, em direção ao ponto de táxi algumas quadras acima. Estava indo para casa, um apartamento no Central Park North, na 5th Avenue esquina com a W 119th St. e esperava encontrar a mesa posta e o jantar quente. Parou numa banca comprar um jornal e uma carteira de cigarros e subiu no táxi alguns metros adiante. O dia era 22 de janeiro de 1931, uma quinta-feira, e para ele tudo corria bem. O táxi continuava sua jornada pela W 42nd St., e ainda se via a construção do Empire State ao sul. 
Chegando em casa, Richard deixou seu paletó no hall-de-entrada e checou seu relógio, eram oito e quarenta. Passou pelo portal que dava a sala e viu num sofá ao canto sua mulher. Usava um vestido negro até os joelhos e maquiagem pesada sob os olhos claros. O cabelo curto intensificava o tom sombrio do seu olhar. 
- Boa noite, amor.
- Chegando tarde de novo?
- Você sabe como é, tenho muita coisa a fazer no escritório.
- Não, não sei. E também não consigo entender. - finalizou ela, voltando a atenção para o livro que tinha nas mãos. Era o The Maltese Falcon de Dashiell Hammet.
Richard foi até o quarto, as luzes todas apagadas, e deixou sua mala em cima da cama, desafrouxou o nó da gravata e voltou a sala. O silêncio permanecia, quebrado regularmente pelo som dos seus sapatos no piso de madeira. Sentia o olhar dela o acompanhando. Pegou o seu jornal e sentou-se na poltrona ao lado do sofá. Por um momento seus olhos se cruzaram, por um momento ele soube que ela sempre estaria ali.

Nenhum comentário:

Postar um comentário