sábado, 31 de março de 2012

Vergonha

Aquele momento em que tudo o que você diz e tudo o que você pensa envolve uma pessoa. Aqueles calafrios que você sempre sente com ela. Era isso que Evaldo estava sentindo, e ele não sabia como expressar isso. Evaldo estava sozinho, sentado em meio de uma casa vazia, fria. Esperando. Talvez esperando por uma certeza, por uma situação qualquer que mostraria a ele que a direção estava correta. Poderia ser também mais uma daquelas ideias erradas que Evaldo teve por tempos, mas ele achava que não poderia cair num mesmo erro mais de uma vez. Laura, por sua vez, estava longe, e não o veria por um tempo. Tudo era muito incerto, Evaldo era sempre muito gentil, e, podia ser impressão dela, mas ela percebia que ele gostava dela. Talvez fosse muito visível, mas não haviam certezas no ar. O que arruinava tudo era a vergonha. Vergonha de dizer tudo de uma vez. Medo de estragar o que já foi feito. É tudo uma questão de arriscar.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Não basta parar e ficar olhando

Evaldo já não tinha certeza. Carolina era um momento passado, constante, porém superado. Surgira então uma chamada Laura que havia aparecido há pouco em sua vida. Em meio a todos os problemas de Carolina, ela vinha de pouco em pouco, cada vez mais tomando espaço nos pensamentos de Evaldo e ele não sabia o que tudo aquilo significava. Mas seguem os fatos; Evaldo conhecera Laura na faculdade, ela era mais velha e tinha uma situação familiar bem peculiar. Tudo levava aquilo a um nível de estranheza que até hoje Evaldo não sabe explicar. Foram dias se vendo e conversando, com alguns "encontros" e alguns vários momentos bons. Ele não sabia o que sentir por ela. Ele não sabia se gostava dela, ou se achava que ela gostava dele. Nada fazia sentido algum, mas o amor faz sentido, perguntava-se Evaldo. Ele não sabia se era amor, ou se era apenas a ideia de estar apaixonado.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Montanha Russa


“Estou bem.” - Talvez fosse a pior mentira do universo. De certo, a maior mentira que Carolina poderia contar a si mesma. E este é o início, também o meio, o fim. É o ponto de partida para fixar-se nas tristezas, prender-se num mar de profundezas. Começar a crer que nada pode melhorar e que tudo é tendência a piorar.
“Sempre me disseram que palavras têm poder...” - Pensava. Talvez essa seja a forma de mudar, talvez.
Era, de fato, a hora de mudar, de pensar em coisas importantes, de sonhar alto. Mas tudo a impedia de sonhar. O amor lhe prendia, e por mais forte que ela tentasse se soltar, o amor era mais forte. Era um ponto de estagnação que ela não suportava mais. A hora de Carolina já havia passado, era hora de correr atrás, de se desvencilhar de incomodos, e de amores. Tudo era um ânimo momentâneo, e esse mesmo já havia passado. Carolina não gostava das surpresas, não gostava de parques de diversões e, principalmente, não queria ter sua vida em um carrinho de montanha russa e eram esses altos e baixos que Carolina já não aguentava mais.

Renata Macedo e Franco Ferreira

sábado, 17 de março de 2012

Opinião

"Por que é que opinião incomoda tanto assim?" Carolina pensava. Perguntava as pessoas, e cada uma dava seu ponto de vista, mas nenhum que fosse compatível ao dela. Cada pessoa tem sua opinião sobre o conceito de opinião. E talvez seja por isso que as pessoas devam respeitar. Carolina coçava a cabeça enquanto tentava imaginar uma universalidade para aquele conceito tão disperso e tão, digamos, volátil. Na cabeça dela, a opinião era a visão que cada pessoa tinha das coisas, ou de situações. O pensamento que vinha depois de conhecer cada coisa, o sentimento que se tinha depois de cada situação vivida. Ela achava que a criação de opinião era inerente a pessoa, ou seja, querendo ou não, nós formamos uma opinião de tudo. Eram ideias e ideais sobre quaisquer tema. Mas isso incomodava ela, de alguma forma que ela tentava descobrir. Saiu de casa e foi para o quintal, respirou um ar gelado da noite, olhou para o céu e voltou, meio que desanimada para dentro. Sentou-se na escrivaninha e pôs-se a pensar. Não era sempre que ela se incomodava, ela se incomodava pela "falta de liberdade de expressão" que ela, e todas as pessoas tinham. Não é sempre que você pode expressar sua opinião livremente. Num mundo e numa sociedade que prezam por uma "liberdade utópica", a própria sociedade te corta em alguns aspectos. Mas, era claro para Carolina que não vivemos num mundo perfeito, e isso deixou de incomodá-la. Contudo, ainda tinha algo que ela não entendia. Mesmo que numa repentina revolta, alguém expressasse sua opinião, "politicamente correta" ou não, sempre havia de aparecer alguém para contra-argumentar ou sei lá, criticar de alguma forma seu, e únicamente seu jeito de ver as coisas. Isso era muito errado para Carolina, era desnecessário, não era nada educado. E pior mesmo era quando essa tal pessoa que vinha apenas para criticar, era desprovida de conhecimento no assunto e assim, além de falar asneiras, não criticava construtivamente. Eis que finalmente Carolina encontrára a solução: Deixava o assunto morrer, utilizando de cortes e ironias. Tinha sido eficiente até então.


Franco Ferreira e Renata Macedo

sexta-feira, 16 de março de 2012

Pedido formal

O mundo deu voltas e mais voltas, os dias iam e vinham, mas Evaldo não tinha uma certeza. Era certo que Carolina gostava dele, pois ela mesma dizia. Evaldo, no entanto, achava errado o sentimento que ele possia por ela. Ele mal sabia descrever o que sentia. Finalmente ele decidiu pedir, tentar transformar o sonho em realidade, literalmente. Pediu Carolina em casamento. Ela achava que um relacionamento desses tendia ao fracasso e preferiu que somente vivessem juntos. Mas faltava um convite, um pedido. Evaldo respirou fundo e disse "Carolina, sabe que nos damos muito bem e eu sinto necessidade de te ter por perto. Acho que te amo, mas não sei bem se é realmente isso. Mas pergunto, você quer viver comigo, estarmos um para o outro e vice-versa?" Carolina pensou por um instante e respondeu "Pois, que Evaldo fique bem sabendo, o coração ou a mente de Carolina escrevem, suplicam um amor muito bonito, um amor diferente do que se vê por aí. E Carolina humildemente aceita, Carolina adoraria viver ao lado de Evaldo." Pois uma coisa era certa; Carolina crê fielmente na bobisse de Evaldo.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Dose de inutilidade diária

Evaldo estava no emprego, a tradicional xícara de café ao seu lado. Estava com a cabeça cheia e decidiu abrir o navegador de Internet. O conceito de Internet sempre lhe foi meio abstrato, quase que metafísico. Ele imaginava um mundo virtual de dados e servidores como portas para esse mundo, que na realidade não passavam de grandes computadores, e a conexão com eles vinha com um cabinho miserável. A grandiosidade da Internet perdeu espaço na cabeça de Evaldo. Ele abriu uma rede social que ele já não abria a certo tempo. As 95 notificações fizeram ele quase pular da cadeira, não obstante, a velocidade em que novas publicações surgiam era quase alarmante. Publicação era um nome interessante, pensou Evaldo. Publicações pra ele eram periódicos, jornais, artigos de revistas científicas. Não imagens com mensagem bonitas, mas sem conteúdo. Depois de alguns minutos observando o comportamento das pessoas, ela já não conseguia saber se aquelas pessoas diferenciavam a vida virtual da real. Toda a rotina, todo o desânimo da vida real apareciam nas "publicações", mas com uma esperança natimorta. Ele percebeu a tendência das pessoas se refugiarem nas telas de seus computadores, pra viver a mesma, ou muito parecida vida que levariam no mundo. A partir daí o café tinha acabado, e sua dose de inutilidade diária também. Fechou o navegador e colocou-se a trabalhar. O mundo é muito grande para se ter tudo a sua mão em segundos.
 

terça-feira, 13 de março de 2012

Beleza Maquiada

Era de fato necessário? Perguntou-se Evaldo. Todas aquelas mudanças iríam trazer resultados? Não conseguiu imaginar uma resposta plausível e seguiu seu caminho pela rua deserta. O frio da noite na cidade o confortava de certa maneira. Se viu de repente na obrigação de parar e apreciar a bela Lua que estava no céu. Fez Evaldo esquecer momentâneamente seus problemas, e ver de fato alguma beleza. Uma beleza que ele já não sentia mais. Uma beleza que ele não conseguia ver nas pessoas e nas suas atitudes. Uma beleza maquiada que destruiu paredes sólidas, que ele considerava inquebráveis e insubstituíveis. O mundo já não era mais o mesmo, pensou Evaldo, enquanto se levantava do banco da praça. Deu uma espiada na Lua, que já tinha sido encoberta por nuvens, e seguiu seu caminho na noite fria.



Casamento

Evaldo acordou de sobressalto. Acordara de um sonho bem interessante, no qual uma amiga dele, Carolina, apareceu. Foi quando se assustou, e acabou acordando. Sem conseguir dormir foi até a cozinha para passar um café e refletir sobre ela. Se conheciam por causa do namorado dela, um amigo de Evaldo. Começaram a conversar e confidenciar coisas, era a melhor amiga de que ele tanto precisava. Ajudava ele, escutava seus problemas, assim como Evaldo escutava os dela. Mas havia um problema, afinal, sempre há um. Evaldo começara a gostar dela, de um modo que ultrapassava a amizade, numa época em que Carolina brigava com seu namorado. Evaldo sempre se sentiu culpado, e ainda mais agora, que além de tudo sonhava com ela.
Lembrou-se, entre canecas de café, que ela até terminou com a pessoa, mas que em seguida voltaram. Lembrou-se também, da infelicidade, que mesmo sendo completamente errado, que ele sentiu quando soube. O quanto que isso deu a entender? Ele já não sabia dizer. Lá se foram minutos de pensamento, até que finalmente lembrou-se do sonho. Estavam numa igreja, era um casamento, com certeza. O estranho era que Evaldo era o noivo. As portas se abriram e a noiva entrou sozinha, com um véu tampando seu rosto, ela parou diante dele e retirou o véu. Era Carolina. Evaldo acordou de sobressalto.