Miami, 1986
A chuva continuava forte na noite em que eu certamente iria
passar em claro. O Malibu foi a pior escolha que eu poderia ter feito. Afinal,
não fazia parte dos planos encontrá-la ali. “Ah! Como era possível que nada
tivesse dado certo hoje!”
Saí do clube em direção ao carro que estava estacionado ao
lado e não me importei em me molhar. Mas foi ao abrir a porta do carro que eu
finalmente acordei desses pensamentos. Ouvi o chamado ao meu nome e olhei para
trás. Ela estava parada na entrada do estacionamento enquanto a chuva, aos poucos,
fazia seus cabelos escorrerem.
- Por que você está me evitando assim? – perguntou-me.
Por um instante eu quis entrar no carro e deixá-la pra trás,
junto com todos esses problemas, mas questionei:
- O que você esperava de mim depois daquele sábado a noite?
- Eu esperava uma reação, algum diálogo, um pouco de foco. –
disse ela a medida que ia se aproximando de mim.
A chuva continuava a nos encharcar embora ninguém se
importasse.
- Eu esperava você, porque eu gosto de você. – continuou ela.
– E eu não quero ficar longe de ti, como fiquei nessa semana.
Ela parou em minha frente e disse enquanto olhava fundo nos
meus olhos:
- Como a gente pode ser tão enrolado? – e me beijou, e eu me
senti como há tempos eu não havia sentido.