sábado, 23 de maio de 2015

Mudanças

Minha cara,

Sinto não poder endereçar esta carta diretamente a ti, mas espero que, ao jogar estas palavras ao vento, elas possam chegar a você.

Penso que os dias em que passei conversando contigo foram os melhores da minha vida. Não sinto medo algum em lhe contar isso, pelo contrário, sinto que ambos crescemos um com o outro. Depois de você, sei que é isso que precisamos em nossa vida. Precisamos de evolução, e aos que dizem que nos adaptamos facilmente às adversidades, não lhes tiro a razão, mas acrescento: Assim seremos acomodados. O meu eu interno clama por mudanças, e vi que contigo poderei alcançá-las.

Querida, sinto lhe informar da distância entre nós, porém, com nossas conversas me sinto ao seu lado. Quando o assunto se rende a abraços, sinto meus braços ao seu redor. Sinto a segurança que nos proporcionamos. Embora as risadas sejam escassas em nossos textos, sinto sua leveza e enxergo seu sorriso a cada música que trocamos.

E mesmo que o tempo tenha sido curto, você reacendeu uma parte de mim. Uma parte adormecida a quase um ano e que, sinceramente, eu não via mais futuro. Você me fez rever a beleza do mundo e ao mesmo tempo, sentir a profundeza da vida. Sentir, pela distância, a minha pequenez.

Novamente gostaria de ter lhe dito isso mais diretamente, mas junto com essas palavras vão meus suspiros que flutuam ao vento por todo lugar.

Com amor,

...

terça-feira, 24 de junho de 2014

Mixed Feelings, Pt. III

Miami, 1986

A chuva continuava forte na noite em que eu certamente iria passar em claro. O Malibu foi a pior escolha que eu poderia ter feito. Afinal, não fazia parte dos planos encontrá-la ali. “Ah! Como era possível que nada tivesse dado certo hoje!”

Saí do clube em direção ao carro que estava estacionado ao lado e não me importei em me molhar. Mas foi ao abrir a porta do carro que eu finalmente acordei desses pensamentos. Ouvi o chamado ao meu nome e olhei para trás. Ela estava parada na entrada do estacionamento enquanto a chuva, aos poucos, fazia seus cabelos escorrerem.

- Por que você está me evitando assim? – perguntou-me.

Por um instante eu quis entrar no carro e deixá-la pra trás, junto com todos esses problemas, mas questionei:

- O que você esperava de mim depois daquele sábado a noite?

- Eu esperava uma reação, algum diálogo, um pouco de foco. – disse ela a medida que ia se aproximando de mim.

A chuva continuava a nos encharcar embora ninguém se importasse.

- Eu esperava você, porque eu gosto de você. – continuou ela. – E eu não quero ficar longe de ti, como fiquei nessa semana.

Ela parou em minha frente e disse enquanto olhava fundo nos meus olhos:

- Como a gente pode ser tão enrolado? – e me beijou, e eu me senti como há tempos eu não havia sentido.

domingo, 22 de junho de 2014

Mixed Feelings, Pt. II

Miami, 1986

Embora chuva me tivesse feito pensar duas ou três vezes antes de sair de casa, era mais do que necessário. Eu tinha que colocar as minhas ideias e problemas em ordem. Não que o Malibu fosse o melhor lugar pra isso, mas era onde eu não esperava encontrá-lo. O som alto e o número de pessoas, combinados, davam justamente no que ele não gostava numa noite. Era engraçado, no entanto, pensar quantas pessoas estavam ali com o mesmo intuito que eu. De querer resolver a vida.

Mas no meu caso não era fácil. Nunca quis parecer nada, por mais que os ânimos se exaltassem de vez em vez. Não era minha culpa, não mesmo. Era o fato dele ter sempre sido tão querido comigo, quando eu precisava. Eu não sei se eu cheguei a precisar dele. Não queria lembrar de tudo o que nós falamos. Mas é incrível como as coisas acabam surgindo na nossa mente. Eu tinha medo e ele dizia entender, dizia que também tinha medo.

E só de lembrar disso, eu me lembro que ele prometeu nunca me deixar sozinha numa pista de dança. Eu andei um pouco pela pista de dança e acabei esbarrando numa pessoa indo embora. Enquanto isso, a música ia dizendo: "I've been waiting for someone new, to make me feel alive." Que irônico.

sábado, 21 de junho de 2014

Mixed Feelings, Pt. I

Miami, 1986

Lá fora a chuva açoitava as janelas dos carros, o vento balançava as palmeiras e os trovões assustavam as crianças que olhavam a tempestade pelas janelas de suas casas. Mas aqui dentro não se ouvia nada. O som ensurdecedor do Clube Malibu era impressionante e as dezenas de pessoas que dançavam na pista pareciam não se envolver com nenhum problema. Como sempre, eu estava sentado no bar com um copo de Jack Daniel's na mão e contemplando a pista de dança lotada.

Mas não era nos problemas em casa, nem nos problemas no trabalho que residia minha mente. Era naquela moça que dançava sozinha num dos cantos. E nas vãs promessas. Bebi mais um gole do whiskey que desceu rasgando tal como a verdade que me assombrava a semanas a fio. Era simplesmente terrível pensar que tudo aquilo que fora dito com tanta sinceridade, não, sinceridade não é a palavra. Tudo aquilo que fora dito com tanta inocência foi tão fácilmente substituído. Agora sim. Bebi mais um gole e forcei os olhos fechados enquanto a bebida fazia o seu estrago.

Não precisava ser nenhum Sherlock Holmes para entender o que tinha acontecido durante aquela semana: Não era pra acontecer. Terminei a dose e larguei o copo junto com uma nota de cinco dólares em cima do balcão, e sai em direção da saída. Devo ter esbarrado no ombro dela no caminho, com a promessa de nunca deixá-la sozinha numa pista de dança na cabeça.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Incógnito

"Queria que fosses a morte,
Para que em seus braços
eu pudesse me jogar
sem medo ou culpa."

Entre sonhos perdidos e projetos esquizofrênicos havia um homem consumido pela preocupação. Os motivos eram vários, complexos e dinâmicos.
- O que acontece quando parte da sua vida recorre? -
Poderia ser um caos, poderia ser uma necessidade de retomar velhos hábitos. Sentia falta de ser invisível, incógnito, livre.
"Queria que fosses a morte," dizia a carta anônima. Era uma urgência, mas não o homem em si. Ele não queria ter "medo ou culpa". Ele temia que as fundações dos seus projetos mais internos desabassem. Que acabasse o combustível dos seus sonhos mais obscuros, pois eram neles que ele poderia se jogar e ser livre.