sexta-feira, 27 de abril de 2012

Fragile

Evaldo caminhava pela avenida, em direção a algo que ele sabia que não iria dar certo. Marina o esperava, sorridente, em frente a faculdade, o beijou... Evaldo acordou assustado, o pesadelo o atormentava mais uma vez. Já era a terceira semana. A terceira consecutiva em que já não conseguia mais dormir. Evaldo se desvencilhou dos lencóis e saiu de sua cama, em meio aquela mesma casa fria, com o mesmo vento entrando pela janela entreaberta. Não sabia, e achava que nunca ia saber como esquecê-la. Foi à copa adjunta, mas não havia nada lá. Pensou num café, mas tudo o que queria mesmo era dormir. Dormir sem ter que lembrar dela. Sem ter que ver seu sorriso, mesmo que num sonho. Pois o problema mesmo foi ter sonhado demais. Evaldo se sentou na escrivaninha e pôs-se a organizar seus papéis. Tentava ocupar sua cabeça com as coisas mais desnecessárias possíveis, apenas para não pensar em Marina. Lembrou-se de Cecília, de Laura, de Carolina. Não poderia haver outro jeito, que não esse.

Guardou seus papéis, um pouco mais organizados, dentro de gavetas. Numa delas havia uma caixinha, que intrigou Evaldo. Abriu-a, e viu que tinham algumas fitas cassetes e um walkman dentro. Levantou-se devagar olhando pra caixa e foi procurar pilhas. Pegou duas numa gaveta da copa, e pôs no Walkman, selecionou uma fita desmarcada, rebobinou e tocou no aparelinho. Reconheceu de imediato, era um álbum antigo que ele havia gravado em fita. Fragile. Voltou à cama, deitou com os fones e adormeceu antes do fim da primeira música.

Acordou, de roupa e tudo, jogado por cima das cobertas. Tirou os fones de seu ouvido e pegou o celular em cima do criado-mudo. Mostrava que haviam mensagens não lidas; "1 Unread Message - Marina". Parecia que não havia fim, e que sempre que conseguia um tempo, ela voltava mais forte. O problema foi ter sonhado demais, ela não tinha culpa. Evaldo precisava esquecer, precisava encontrar um novo amor. Ou como diria seu amigo, Allen, não precisava. Era uma questão emocional, Evaldo supunha, era uma necessidade em precher um vazio. O problema estava em preenchê-lo com uma ilusão, com uma mentira, com uma ideia criada a partir de você. "Vamos almoçar hoje?" Não, pensou Evaldo. Não era preciso, era necessário ser mais forte que isso. "Sim, claro. Vamos nos encontrar onde?" Era mais uma semana vindo.

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